ESCALANTE








Em Escalante, as próprias escalas são ativadas de outra forma, num movimento sinuoso de implosão visual, apresentando uma escultura que é uma peça-situação, por si só modulável, e que abriga, portanto, uma flexível ironia formal, articulável. Ou que, então, apresenta um paradoxo espacial, de uma ótica “cronopiana” - aquela tipologia contraditória e amiga do acaso do escritor argentino - para as coordenadas sempre estritas da Vitrine Efêmera, em que uma serpente metálica engole o próprio espaço interior (de dentro da vitrine) e se metamorfoseia no reflexo da rua (de fora da vitrine).
O movimento contínuo de Escalante está em gerúndio e nas trabalhadas articulações de seu ser medusa é corpo e espaço, ao mesmo tempo (quem sabe até respirar aquela organicidade pungente conjurada por Maria Martins e, portanto, produzindo essa simbiose aludida Clark/Maria...). E o convite para enxergar outros planos multifacetados - e chame-se a atenção para as duas escadas vindo do teto, assim como para o grande número de furos das escadas - revela que se está lidando com uma aura contemporânea, tão desconstruída quanto reconstruída, e vice-versa.

Adolfo Montejo Navas, crítico e curador, em Degraus para Escalante,
texto do folder Escalante, 2017, Estudio Dezenove - Rio de Janeiro, Brasil



Escalante 2017, escada articulada de alumínio e ferro galvanizado
200 x 200 x 150 cm