MUDANÇAS


inserção urbana e exposição







































MUDANÇAS 2016 inserção urbana e exposição Vídeo 2015-2016 2’58’’em looping seis projetores em dois telões de 2,65 x 14,40 m cada Carrinhos 2016 alumínio e ferro galvanizado 0,71 x 1,01 x 0,42 m cada Painéis Debatedores 2016 alumínio e chapa acm inox 1,20 x 3,00 x 0,01 m cada Escadas-Plataformas 2016 alumínio e chapa acm inox 2,20 x 1,60 x 0,62 m
1,95 x 1,40 x 0,61 m
1,70 x 1,21 x 0,59 m
Caminhão 2016 alumínio e aço 3,44 x 7,18 x 2,25 m   |   2,51 x 5,50 x 2,25 m baú








 


À medida que adentramos em Mudanças, nossa presença ativa a obra, vive e se deixa viver, energiza-se a visão com nosso caminhar. E nossos passos em volta dela fazem parte da obra: as diferentes estruturas metálicas criadas – escadas, painéis e carrinhos –, por meiode uma combinatória modular espelhada e especular, permitem esse diálogo entre o olhar e nosso trânsito-palavra, expressão também cara na terminologia artística de Eliane Prolik, na dupla acepção de locomoção-transporte e passagem-experiência.

É um olhar de passagem, uma contemplação de forma corporal e sensorial, enfaticamente rarefeita e, portanto, sempre em trânsito, tal é a inclusão da duração nelas, ou seja, de um sentimento impregnado de nova temporalização (o que Bergson potencializou como outra medida, outro sentimento do tempo,curiosamente, um caro títulode Giuseppe Ungaretti). Cria-se, então, um itinerário aberto à especulação espacial, de tal forma que a instalação produz seus redemoinhos perceptivos, cognitivos e se transforma numa maquinaria escultórica, capaz de emitir sinais próprios, de produzir uma ativação do espaço que se inscreve na obra e vice-versa. Uma atenção permanente ao fluxo, a como todos os componentes da instalação-intervenção se retroalimentam (luzes, reflexos, objetos escultóricos, arquitetura). Nessa fuga visual em diáspora, a espessa urdidura e o enredo se tramam num entrecruzar-se quase infinito.


[...]Como uma série de peças tridimensionais que desejam a conquista da quarta dimensão, conosco dentro, sempre paradoxalmente: estamos e não estamos – des aparecemos, como os carros –, graças à inclusão estrutural dos espelhos e sua formatação recortada, sempre objetos específicos de especulação não só visual quanto identitária (enquanto somos sujeitos submersos na potência do público, metáfora do coletivo). De um rebatimento visual em que nos vemos submersos, de forma abismal.

E pur si muove. Ainda mais na extensão do trabalho que viaja, uma escultura-caminhão com uma abertura significativa na parte de carga qualnovo espaço de visão. Jogando até ironicamente com a referência do enquadramento, as referências de contorno, o caminhão permite ser, por sua vez, receptor e emissor quando se move pela cidade ou quando fica estacionado. Lá vai, de qualquer forma, produzindo imagens, fotogramas, framesdo real, como de alguma maneira diariamente nós fazemos sem nunca ter chance de edição possível. Como um cinematógrafo escultórico, o caminhão filma exteriores da cidade, imagens imateriais não reveladas nem fixadas, repertório urbano de imagens em absoluto movimento e mutação: e seu rio imagético não deixa de ser heraclitiano, porquanto nos banhamos nele sendo ele sempre diferente.

[...] O material alumínico comum, de natureza frisada, vai se encontrar também nas peças modulares (carrinhos quase baús ou bancos de sentar de alguma estação imaginária). Sua matéria-prima, sempre refletora e condutora da luz, recebe a sua inclusão na voragem lumínica do vídeo Red Aheadque contamina o local de ação do conjunto de esculturas dispostas de tal forma a aumentar a nossa impressão de alteração de coordenadas de direção.

[...] No interior, produz-se um intenso caleidoscópio visual que contamina o espaço com sua velocidade, dilatação, distorções, concatenações, correntezas de luzes vermelhas de faróis de carros e a posterior metabolização visual dos carros em movimento na rua fora da sala expositiva com suas luzes refletidas por sua vez em assemblage,com as imagens do vídeo na arquitetura.


ler texto completo

Adolfo Montejo Navas, crítico e curador,
em texto E pur si muove,  2019 - Curitiba, Brasil